Os Montes Funeral e Telescopio estavam à vista. Como pétreas
sentinelas da sepultura de sal, areia, dunas e rochas, que era o deserto do
Vale da Morte.
Como lúgubres e mortais sentinelas que quisessem advertir o
viajante, o forasteiro, de que ali, entre as suas salitrosas areias, entre o
seu fantasmagórico silêncio, se encontrava a morte.
Uma morte horrível,
tanto por falta de água como por outra causa qualquer. Sentinelas mudas, mas
que avisavam com a sua presença, desde grande distância, que aquilo, aquele
lugar, aquela depressão infernal, não podia ser pisada pelo homem.
O cavaleiro sabia-o, também.
Cavalgava, em linha reta, na direção do Monte Funeral,
debaixo de um sol de fogo, ao meio-dia. A sua direita, erguia-se, majestoso, o
Monte Telescópio, formando uma enorme porta, sempre aberta, para o inferno.
Até ao Vale da Morte.
Mas o cavaleiro não o via. Não via nenhum dos montes. Não
via, tão-pouco, aquela larga e plana abertura que, imediatamente, em rápida
descida, o levaria por entre dunas, areias cristalizadas, blocos empedernidos
de rochas, árvores petrificadas e milenárias, até à sepultura, entre montões de
sal, com a boca seca, horrivelmente inchada por falta de água.
Também não pensava.
Podia dizer-se, sem receio de erro, que cavalgava como um
autómato e que estava a ponto de cair da sela.
O Monto Funeral encontrava-se a menos de quinhentas jardas
dele, quando uma figura apareceu a seu lado, surgindo de entre umas rochas e
levando um rifle nas mãos.
Uma «Winchester», mais exatamente.
Os seus olhos, intensamente negros, olharam uns segundos o
cavaleiro e logo as mãos levaram o rifle à cara. Durante uns segundos, o cano
da arma esteve apontado para o meio do peito dele. Mas não apertou o gatilho.
Em vez disto, baixou o rifle e fê-lo, justamente, quando o
cavaleiro deslizava, mansamente, da sela para o solo. Então, o cavalo que montava
parou.
Completamente imóvel, com os negros olhos, fixos, muito
fixos, na figura do cavaleiro, continuou olhando-o durante vários segundos, até
que, finalmente, se decidiu.
Sem abandonar o rifle, desceu, quase correndo, por entre as
raquíticas ervas e pedras, até ao lugar da sua queda.
Inclinou-se sobre ele e, com bastante trabalho, voltou-o de
boca para cima. Depois, com o semblante completamente rígido, aproximou-se do
cavalo. Sabendo que era impossível levantá-lo até à sela, tirou a corda do
arção da mesma, prendeu-a à borraina, passou-a por debaixo das axilas do
cavaleiro e começou a arrastá-lo...
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